RESPEITAR AS ETAPAS
Tenha consciência de que a confusão e o sentimento de impotência frente ao que está acontecendo são reações comuns e até esperadas. Será preciso lidar, dia a dia, com as etapas e o tempo de acomodação da ideia do fim da relação, dos sentimentos que oscilam e da mudança de rotina. Os primeiros dias, ou até semanas, tendem a ser os mais difíceis. Esse período pode ser racional e emocionalmente tão difícil de digerir que pode ainda sobrar esperança de que o outro se arrependa e volte, ou de que tenha havido um mal-entendido que logo se esclarecerá.
Entretanto, o caminho — a princípio não desejado por aquele que fica — será a conscientização progressiva de que, talvez, nunca receberá uma explicação lógica e objetiva para o que aconteceu. Talvez as motivações do outro nunca sejam reveladas.
VIVENCIAR OS SENTIMENTOS
Você poderá sentir tristeza, desamparo, raiva ou mesmo uma dor profunda que poderá chamar de saudade. Esse turbilhão de emoções pode acontecer ao longo dos dias ou até mesmo aparecer, intercaladamente, dentro das 24 horas de um dia. Lembre-se de que havia um vínculo e a dor pelo final ainda não elaborado poderá causar ressentimentos ou mesmo o mais ardiloso plano de vingança (fantasiar é normal, porém é completamente diferente de fazer). Isso, claro, antes de você ver uma foto da pessoa que se foi, e talvez desabar no choro e encharcar o travesseiro até a hora de dormir. Não sinta culpa por sofrer e nem por sentir falta de alguém que te abandonou. Esses sentimentos só provam que você tinha uma relação afetiva com aquela pessoa.
Saiba que os sentimentos que agora te consomem tendem a, dia a dia, acomodar-se e ficar menos intensos e frequentes. Assim, se agora você nem dorme direito (ou quer dormir o dia inteiro), isso continuará acontecendo, mas vai rareando.
EVITE O CONTATO COM A PESSOA QUE SE FOI
Eu sei que esse é um “conselho” difícil de seguir, mas lembre-se de duas coisas:
Assim, quanto menos você tentar conversar, procurar, mandar mensagens ou mesmo stalkear nas redes sociais, melhor para você. Eu digo isso porque, a cada novo silêncio do outro, talvez você reviva a rejeição que está começando a trabalhar. Se você achar que deve tentar algumas vezes e que isso pode te ajudar a se conformar, tudo bem, então faça, mas estabeleça um limite de tentativas (uma, talvez duas?) e, quando elas terminarem, pare. Esteja preparada para o silêncio. Às vezes essas frustrações são importantes para tornar o “abandono” mais concreto e, embora pareçam o mesmo que “dar murro em ponta de faca”, elas podem ser úteis para que você consiga diminuir as expectativas de retorno.
TRABALHAR A REDESCOBERTA DE SI MESMA SEM O OUTRO
E se eu te contar que, para além do afeto, um relacionamento afetivo está muito relacionado com rotinas e hábitos. No começo é tudo mais difícil, pois diversas coisas que você fazia eram associadas à manutenção da relação com a pessoa que se foi. Assim, a princípio, alguns lugares, momentos em que você costumava mandar mensagens ou ligar, uma comida específica, dias em que vocês normalmente se viam ou mesmo pessoas que vocês conheciam e que eram amigas em comum servem de gatilhos que remetem à falta de algo. A rotina, entretanto, mostrará que, aos poucos, outras atividades e laços afetivos podem preencher esses espaços.
Depois dos primeiros dias de impacto e contato necessários com a dor e a perda, você pode trabalhar para ajudar a levantar a sua estima iniciando algo por si mesma. Pode ser voltar para a academia, fazer uma caminhada, aquela dieta que estava planejando, um curso onde terá contato com lugares e pessoas novas.
Sem o outro sua vida fica mais econômica? Se for esse o caso você poderia economizar para fazer uma viagem ou até mesmo, aproveitar que está livre e ir visitar alguém que você adora, que há tempos não vê. Invista em você.
A QUESTÃO DA CULPA
Na busca por explicações para o fim, como você leu parágrafos acima, não é incomum que você procure falhas em você que justifiquem a partida do outro. E, é fato, talvez você encontre um ou outro comportamento pessoal que o outro não gostava. Mas, lembre-se de que atribuir o fim da relação a essa “suposta descoberta” não é um bom caminho. Evite entrar em um espiral de autoculpa porque ela não justifica a partida do outro e, muito menos, muda o final da história. A pessoa que se foi fez uma escolha unilateral de não terminar a relação de forma madura e participativa, assim, não há característica sua que dê conta da irresponsabilidade afetiva do outro.
NÃO SE TORNE AQUILO QUE TE FERIU
Adotar, em relações futuras, o mesmo comportamento daquele que te feriu, não te deixará mais feliz. A frieza e o entorpecimento afetivo são mecanismos de defesa que tentam nos afastar daquilo que pode nos machucar, porém, eles também nos privam da possibilidade da entrega e da tentativa de desenvolver um vínculo mais maduro e construtivo. Na vida, não aprendemos apenas com nossos próprios erros, mas também evoluímos quando somos confrontados com os erros do outro. A beleza dos relacionamentos é que eles são construídos na possibilidade da entrega e da troca. Então, não permita que a incapacidade de alguém dizer adeus de forma apropriada lhe tire a motivação para tentar de novo no futuro. Respeite seu tempo, mas, se sentir vontade, tente de novo.
Também lembre-se de que uma das únicas justificativas aceitáveis para um final abrupto como o do ghosting é quando a pessoa vive dentro de um relacionamento com características de abuso e manipulação. Nesses casos, um fim brusco pode ser a saída possível para a autopreservação com relação a um parceiro com traços narcisistas ou até mesmo um sociopata. Ah, e outra informação importante, não é raro que pessoas com essas mesmas características sejam as pessoas que abandonam, uma vez que elas possuem pouca ou nenhuma empatia.
CONTE A SUA HISTÓRIA
Muitas pessoas encontram força para continuar quando percebem que não são as únicas que passam por essa situação. Assim, nos momentos difíceis, respeite seu silêncio e necessidade de introspecção. Mas, quando puder, tenha em mente que as pessoas que te amam são sua rede de apoio emocional. Converse com seu melhor amigo ou amiga, procure um familiar para abrir seu coração. Ouça o que eles têm para falar. Deite-se no ombro das pessoas que gosta, chore, ria, xingue, deixe tudo fluir.
É importante saber que, quando você conta sua história para alguém, também está contando para si mesmo. Ouça suas próprias palavras. Se for seu estilo, anote, faça um diário. Talvez você possa até mesmo escrever uma carta para aquele que se foi. Diga tudo o que precisar dizer. Pense no que gostaria de fazer com esse papel. Que enviar? Mandar como um e-mail? Rasgar e jogar no rio. Queimar? Por que não? Crie um ritual se isso fizer você se sentir melhor.
Outra possibilidade é procurar grupos de apoio na internet. Não achou? Crie um!
Momentos assim também são uma grande oportunidade de observar padrões. Será que essa é a primeira vez que isso acontece com você? Como é, ou era, o relacionamento dos seus pais? Preste atenção para ver se não existe uma repetição no tipo de pessoa que você escolhe para se relacionar.
Não hesite em procurar ajuda psicológica, se você achar que não consegue superar esse momento sozinha. Mesmo nos momentos de maior desespero, SEMPRE EXISTE ALGUÉM QUE PODE AJUDAR. Se for esse o caso, não espere que percebam o quanto você está sofrendo: peça ajuda mesmo ligando para o CVV – Disque: 188.
Na maioria das vezes, contudo, a boa notícia é que esses momentos mais difíceis vão passar e podem até mesmo virar uma boa história no futuro quando você puder olhar para trás.
Te desejo uma boa caminhada nesse processo.
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Texto da psicóloga Josie Conti, editora da CONTI outra
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Fragmento do livro: Ghosting: como enfrentar os dias mais difíceis depois que a pessoa que você ama some sem dar explicações
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