O bullying se caracteriza por comportamentos que, de forma intencional e sistemática, têm como objetivo intimidar uma pessoa gerando sofrimento físico e/ou psicológico. Normalmente são escolhidas como “alvo” para essas práticas colegas de turma que, de alguma forma, destoam do grupo médio: altura, idade, condição financeira, raça, uso de óculos, aparelho dentário, timidez, inteligência, orientação sexual, entre outras coisas. Pelo fato do abuso ser algo que acontece com frequência, a pessoa vitimizada tem seus recursos emocionais minados gradativamente. Afinal, em teoria, podemos superar um ato desrespeitoso que acontece uma vez em nossa vida, mas, e se formos humilhados, maltratados, e/ou espancados diariamente? Nesse caso, o perigo da que a pessoa desenvolva um transtorno psiquiátrico é muito maior.
Alguns exemplos que justificam essa afirmativa são:
– a pessoa que está sofrendo bullying pode estar sendo ameaçada para que não denuncie o caso ou o abuso aumentará;
– a pessoa que está sofrendo bullying pode, em momentos anteriores, ter pedido ajuda, mas não foi atendida ou acolhida por professores ou direção escolar de forma apropriada ou resolutiva. Os responsáveis podem, inclusive, ter entendido a situação como apenas um conflito circunstancial;
– Existem, ainda hoje, diretores e coordenadores escolares que acreditam que “bullying não existe. (posso afirmar porque já ouvi essa afirmativa durante uma reunião diretamente da da gestora escolar)
– Em alguns casos, como em ambientes mais machistas, um menino que sofre bullying na escola pode ouvir de um dos pais coisas como “Se apanhar na escola, vai apanhar em casa de novo” ou mesmo “Eu apanhei na escola e isso me deixou mais forte. Ou ainda, usando expressões mais atuais “Isso é muito mimimi, você tem que bater de volta. Se apanhar e não reagir vai ser sempre um mariquinhas”. Isso só para dar uns poucos exemplos.
– criança ou jovem não querer ir à escola;
– mudança de comportamento: criança mais quieta, triste e evitava. Deixa de fazer coisas que antes gostava;
– alergias, dores de estômago e de cabeça podem ser formas de sofatização;
– acessos de choro ou raiva sem motivo aparente;
– hematomas;
– ideação suicida- ou mesmo tentativas.
Se, por outro lado, pensarmos propriamente no ciclo do abuso, devemos observar não só quem sofre o bullying como também quem o comete. Isso porque muitas das pessoas que utilizam a violência como forma de expressão também são pessoas que sofrem ou já sofreram violência dentro de casa, na escola ou em outros ambientes que frequentam. Logo, em um local em que não são as vítimas do abuso, essas mesmas pessoas podem ser tornar os abusadores porque aprenderam que essa é a forma de subjugar e gerar obediência. Ou, indo até mais longe, a violência pode se tornam uma forma de sobrevivência.
Também nessa lógica, as crianças e jovens que estão sofrendo ou já sofreram bullying e que não encontraram uma rede de apoio que desse conta de defende-los podem acumular sentimentos de vingança que, a cada dia, tornam-se maiores (eles pensam em como seria se eles pudessem revidar e provar que conseguem se defender). É por isso que, não raro, ouvimos que uma pessoa que cometeu um ato contra uma escola ou colegas, foi, anteriormente, vítima de bullying. Quando isso acontece temos o ciclo da violência instalado: vítimas que se tornam abusadores.
É necessário um trabalho multidisciplinar que envolve:
CONCEITUALIZAÇÃO– Conscientização da realidade da problemática. Não minimizar e muito menos negar a existência desse tipo de prática. É necessária uma maior compreensão sobre o que é violência e os riscos para pessoas que sofrem violência sistemática. Esse esclarecimento deve ser incorporado, desde as políticas públicas, ao ambiente estudantil e ao trabalho feito com pais e alunos, pois a causa também é multifatorial e envolve todas as esferas:
Observe se pessoas que sofrem abusos estão sendo acolhidas:
– pela escola como instituição
– pelos professores como pessoas próximas do dia a dia
– por orientadores e psicólogos escolares que podem estar mais próximos aos alunos que apresentam questões específicas
– a assistência social e serviços de saúde mental do município que podem chegar as crianças, jovens e familiares para além dos muros da escola
A atenção dos pais e responsáveis a alterações de comportamento não episódicas deve ser sempre uma constante. Também nao devemos subestimas queixas sem compreender a sua origem. Nem sempre crianças e jovens sabem como traduzir a situação em que estão passando em palavras.
– Observe atentamente: comportamentos podem dizer muito mais do que palavras;
– Se seus filhos tiverem idade suficiente, faça perguntas abertas e dentro de uma situação confortável, assim a respostas virão mais facilmente e trarão um conteúdo que vá além do “sim” ou não”;
– converse com seus filhos sobre bullying, limites pessoais e formas de pedir ajuda;
– sempre mantenha aberto o canal para conversar com professores e gestores da instituição;
– procura ajuda profissional.
Lembre-se que:
– nem sempre crianças e adolescentes pedem ajuda;
– nem sempre uma criança que diz que “está tudo bem” está falando como realmente se sente;
– nem sempre o que está acontecendo é “apenas uma fase”
– não é porque você ou outras pessoas que sofreram bullying na escola estão bem, significa que seus filhos ficarão. (acredite em mim!)
– sim, pode existir risco real para seus filhos.
– na dúvida pergunte e peça ajuda!
Texto escrito por Josie Conti- psicóloga
CRP: 06/66331
(Esse material pode ser reproduzido desde que nome da autora e link de origem sejam respeitados)
Dica de série:A Lição: Série da Netflix é excelente entretenimento e um alerta para os ciclos de violência desencadeados pelo bullying
Esse artigo falou sobre: Josie Conti, Psicóloga, Psicologia Escolar, Educação, Bullying, Prevenção ao bullying, como identificar o bullying, não subestimar o bullying, importância da rede de apoio
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